Texto também traz informações gerais sobre a doença e recomendações para retomar a rotina de atividades físicas
Confira abaixo a íntegra da matéria publicada no Portal G1 em 12 de março de 2021. A reportagem ouviu o professor de educação física João Paulo Rebesquini, especializado em treinamento funcional; o fisioterapeuta Marcos Mônico-Neto, Membro do corpo clínico da G2 Health Medicina Integrada (clínica parceira da CARE Medicina e Reabilitação), o médico João Sahagoff. presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular do Rio (SBACV-RJ); e o médico do esporte, Fabio Peralta Mathias, um dos sócios-fundadores da CARE.
A autoria é de Rebeca Letieri.
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O quanto a Covid-19 afeta a nossa circulação sanguínea, a ponto de dificultar nossa mobilidade e o retorno às atividades físicas? A infecção pelo SARS-CoV-2 pode causar um processo inflamatório muito exacerbado devido à chamada “tempestade de citocinas”. Citocinas são proteínas que regulam a resposta imunológica, ou seja, o corpo humano tenta se proteger do “invasor” e libera diversos mecanismos de defesa que, por sua vez, podem acabar causando uma síndrome inflamatória. Essa inflamação, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular do Rio (SBACV-RJ), o médico João Sahagoff, pode resultar em uma trombose da microcirculação, o que ocasiona uma piora não somente nos pulmões, mas também no fígado, coração, rins e até nas extremidades mais distais do corpo, como mãos e pés.
– Existem vários trabalhos relacionando o aumento das proteínas inflamatórias à inflamação intravascular. Essa microtrombose faz com o que o paciente piore como um todo, especialmente os rins e o pulmão. Como esses vasos também já estão contraídos por conta do mecanismo de defesa e do aumento das citocinas, quanto menores ficam, mais suscetíveis eles estão para formar coágulos – explica.
Segundo o médico, a Covid-19 é uma doença inflamatória trombogênica, na qual a resposta do nosso próprio organismo pode piorar a situação clínica do paciente. Normalmente, isso ocorre nos casos moderados e graves. Há que se ponderar, entretanto, individualmente os riscos trombótico e hemorrágico, uma vez que o tratamento tem que ser indicado e conduzido por um médico. O uso de anticoagulante, sem prescrição médica, pode gerar complicações graves.
A trombose venosa profunda pode ser identificada a partir de:
- “Edema súbito” (inchaço) de um dos membros inferiores;
- Dor aguda súbita na panturrilha;
- Discreto aumento de temperatura.
Já a trombose arterial pode ser identificada por:
- Dedos arroxeados;
- Dor súbita nos pés;
- Intensa diminuição de temperatura num membro inferior;
- Sensação de anestesia da perna.
– O objetivo principal do tratamento da trombose venosa é evitar a embolia pulmonar, o prolongamento da trombose na perna e também a retrombose e suas sequelas nas pernas. A medicação mais utilizada para este fim são os anticoagulantes. Contudo, são necessários exames de sangue periódicos mensais para se saber se estão efetivos. A intensidade da dor, a localização e a extensão do trombo influenciam o médico na escolha para realizar o tratamento ambulatorial ou hospitalar. Em situações mais graves, outros métodos de tratamento podem se fazer necessários – explica Sahagoff.
Na maioria dos casos, a trombose é tratada por um mínimo de três a seis meses, mas estudos mais recentes têm mostrado vantagens para estender o tratamento por mais de um ano. Para pacientes que tiveram a trombose mais de uma vez, o tratamento deve ser mais prolongado e, dependendo do diagnóstico e da gravidade dos eventos, a anticoagulação pode ser até perene, ou seja, usada indefinidamente, podendo ser uma opção por toda a vida. O papel da tromboprofilaxia para pacientes com Covid-19 leve, porém com múltiplas comorbidades, ou ainda para indivíduos sem Covid-19 porém menos ativos devido à quarentena, ainda é incerto.
A orientação do médico para prevenção é que a população se mantenha ativa, o máximo possível, em casa:
- Fazer algum tipo de exercício ou caminhada regular, mesmo que em casa. Já é mais do que sabido que passar muitas horas sentado, em comportamento sedentário, predispõe para a trombose;
- Beber bastante água (principalmente agora no calor);
- Ingerir alimentos leves com moderação para evitar ganho de peso.
Quando e como voltar aos exercícios?
Desde o início da pandemia a comunidade científica vem acumulando um crescente corpo de evidências que tem norteado o tratamento dos pacientes com Covid-19. Pesquisas já indicam que é grande o número de pessoas que se recuperam do quadro agudo da doença e se referem a sintomas persistentes. O fisioterapeuta Marcos Mônico-Neto chamou de síndrome da Covid longa, mas também se fala em síndrome pós-Covid.
Entre os sintomas, o especialista destaca:
- Fraqueza muscular;
- Fadiga;
- Cansaço em esforços moderados, como caminhar e atividades de vida diária;
- Aumento dos sintomas de ansiedade;
- Prejuízo cognitivo;
- Perda de olfato (anosmia) e paladar.
Nesse sentido, a prática de exercícios físicos é uma importante abordagem terapêutica, não farmacológica, e que pode ser aplicada nos pacientes que possuem os sintomas da síndrome da Covid longa desde que isso ocorra após serem feitos exames e haja liberação e orientação médica.
– Embora os mecanismos fisiológicos e moleculares não estejam totalmente estabelecidos, a literatura científica tem demonstrado diferenças importantes entre casos leves e graves da Covid-19, que devem ser consideradas para a prática de exercícios físicos. A presença de comorbidades prévias, como a hipertensão, a insuficiência cardíaca, distúrbios vasculares e obesidade devem ser a primeira preocupação dos profissionais de saúde para traçar o tratamento, pois estão associadas aos casos mais graves da doença. Além disso, há alguns marcadores sanguíneos que indicam a gravidade da doença, cujo aumento está associado com distúrbios que aumentam o risco de morte – explica.
Segundo Marcos, o acompanhamento clínico de pacientes com quadros de trombose e infarto do miocárdio é de grande importância para o monitoramento de parâmetros, e a prática dos exercícios físicos deve ser estimulada quando esses indicadores estão controlados. Mesmo em pacientes que apresentaram sintomas leves da Covid-19, o médico deve solicitar exames para garantir que o indivíduo esteja saudável antes de liberar a prática de exercícios físicos, como um check-up cardiológico e exame de sangue para garantir a saúde cardiovascular.
Para os pacientes que apresentaram sintomas graves da Covid-19:
- A prática de exercícios físicos é orientada apenas quando os marcadores sanguíneos estão normalizados;
- Inicialmente o exercício deve ser realizado em um ambiente controlado, com a presença de profissionais de saúde;
- Os profissionais devem estar atentos a qualquer sintoma sugestivo de distúrbios circulatórios e cardíacos, como dor, edema, vertigem, formigamentos/dormência, etc.;
- O exercício físico de alta intensidade deve ser evitado no início do tratamento, pois pode exacerbar processos inflamatórios, deprimir o sistema imunológico e desencadear respostas como broncoespasmo relacionado ao esforço físico;
- O monitoramento dos sinais vitais e o relato do nível de esforço físico do paciente durante os exercícios é essencial para garantir que a “dose” aplicada resulte em adaptações fisiológicas desejáveis.
Há diversas diretrizes sendo constantemente atualizadas para o retorno à prática de atividade física, de acordo com o médico do esporte, Fabio Peralta Mathias. O especialista ressalta a importância de buscar orientação médica antes de retomar a prática de atividade física. E acrescentou algumas observações:
- O repouso absoluto deve respeitar o tempo mínimo de sete dias sem nenhum sintoma, e no mínimo dez dias a partir do primeiro dia de sintomas;
- O retorno deve acontecer de forma branda e progressiva na intensidade;
- Deve-se respeitar os limites do corpo, que pode cansar mais rápido do que o habitual.
– O comprometimento respiratório é preocupante, e deve ser acompanhado em sua evolução, que na maioria dos casos é benigna; mas pode-se desenvolver formas graves, até com fibrose pulmonar – acrescenta.
O personal trainer João Paulo Rebesquini afirma que em casos leves de Covid-19 a sugestão é que, após a realização de todos os exames e a liberação médica para a prática de atividades físicas, se inicie os treinos de forma leve gradativa e com acompanhamento, trabalhando tanto a resistência aeróbica quanto anaeróbica. Ou seja:
- Realizar caminhada ou corridas leves (respeitando da capacidade física de cada indivíduo);
- Treinamentos que visam o aumento da força de contração muscular, como funcional, pilates e musculação;
- Saturação de oxigênio no sangue e pressão arterial devem ser monitoradas, pelo menos no início e fim dos treinos.
Atividades físicas pós casos graves de Covid-19, segundo João Paulo, requerem mais paciência e atenção, com comunicação entre médicos e educadores físicos / fisioterapeutas. O início ou retomada das atividades físicas, recomendou, deve ser leve, com frequência mínima entre duas e três vezes na semana. Exercícios respiratórios específicos também são bem-vindos, como inspirar e manter o ar preso por alguns segundos, soltando gradativamente.
Link para a matéria no Portal G1